terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos. Hoje não tem outro assunto, é lembrar e reverenciar os 30 anos da máxima conquista do Clube de Regatas do Flamengo, o Campeonato Mundial de 1981. Mas quero fazer essa passagem sob uma perspectiva um pouco diferente. Afinal de contas, de quem o Flamengo ganhou naquela tarde gelada de Tóquio? Quem era o Liverpool? A facilidade com que Zico & Cia. construíram o placar e a vitória deixa uma impressão um pouco falsa do nível do adversário. Assim, vou tentar mostrar um pouco do campeão europeu de 1981. Boa leitura.



O Exército Vermelho a Caminho do Mundo



1981, outubro. Após longa negociação, várias negativas iniciais e rodadas de conversações que incluíram representantes do Liverpool, da Federação Inglesa e da própria Toyota, finalmente a diretoria do Liverpool Football Club confirma sua participação na partida que irá decidir o Campeão Mundial de Futebol de 1981. O Mundial Interclubes, com é mais conhecido, surgiu nos anos 60, para aferir com exatidão qual a melhor equipe do planeta, mas perdeu muito prestígio na década de 70 diante da selvageria nos jogos disputados na América do Sul (consta que o Milan, após uma decisão contra o Estudiantes, voltou quase sem time para seguir a temporada, vários jogadores quebrados), que fez com que vários campeões europeus simplesmente se recusassem a disputar a taça. A entrada da Toyota, propondo a decisão em jogo único, campo neutro, volta a dar à competição a relevância dos primeiros tempos. E ter o lendário Liverpool em campo conferirá ao jogo um charme irresistível.

O Liverpool é a melhor equipe da Europa. O treinador Bob Paisley, que assumiu o comando em 1974, não só conseguiu dar continuidade ao trabalho anterior, do respeitado Bill Shankly, como finalmente passou a colher frutos suculentos, resultando numa hegemonia irresistível e insuportável para os rivais. Pois, num intervalo de CINCO anos, os comandados de Paisley conquistaram QUATRO Campeonatos Ingleses (1976, 1977, 1979, 1980). Além dos títulos nacionais, o Liverpool ainda ostenta em seu currículo uma Copa da UEFA (1976) e dois Campeonatos Europeus (1977, 1978), antes do título europeu de 1981. É um cartel que jamais será igualado em um prazo tão curto de tempo. A força das conquistas faz com que o time de Bob Paisley seja conhecido e temido com o nome de Exército Vermelho, ou Red Army.

O Red Army congrega em seu elenco, formado praticamente só por britânicos, alguns dos melhores jogadores do Reino Unido. Seu time é, ao mesmo tempo, a espinha dorsal da Seleção Inglesa (quatro jogadores) e da Seleção Escocesa (três nomes). O time, equilibrado e competitivo, tem na velocidade do ataque e nos chutes de longa distância seu maior forte. A presença dos escoceses Souness e Dalglish confere ao Liverpool uma técnica incomum a equipes inglesas. Souness é o grande jogador do Liverpool, é o cérebro do meio-campo, responsável por fazer a transição meio-ataque. Com o meia McDermott (conhecido por seu chute fortíssimo), trabalha num revezamento de posições que costuma confundir as marcações adversárias. Souness e McDermott são os homens que abastecem o temido ataque formado por Dalglish e Johnson. Dalglish é mais veloz e técnico, é o goleador da Seleção Escocesa. Johnson é mais trombador, costuma ser o ponto de referência nas bolas altas. Completam o meio os infatigáveis volantes Lee e R. Kennedy. O lateral A. Kennedy também costuma apoiar o ataque com frequência, enquanto o outro lateral Neal tem perfil mais marcador. A zaga, segura e vigorosa, conta com os brucutus Thompson e Hansen. Mas no gol há problemas. O ídolo Clemence trocou Anfield pelo Tottenham, e Bob Paisley ainda não encontrou o substituto ideal. A aposta recai sobre o jovem Grobbellar, egresso do Zimbabwe. Mas Grobbellar, exótico e falastrão, ainda não se mostra seguro, vem sofrendo muitos frangos nas partidas da temporada.

E, além do time forte, há a torcida de Anfield, fanática, apaixonada, que simplesmente se recusa a aceitar o revés antes do apito final. Uma torcida capaz de proporcionar viradas homéricas e históricas. Uma paixão tão contundente que está estampada no próprio escudo da equipe, nos dizeres “You'll never walk alone” (vocês jamais caminharão sozinhos), jargão tantas vezes copiado. A torcida do Liverpool é um dos fatores que confere ao Red Army uma capacidade de entrega e uma competitividade admiradas e respeitadas por vários adversários.

A conquista do Europeu de 1981 foi dramática. O time não teve problemas nos jogos iniciais, com destaque para as vitórias sobre o Aberdeen, treinado por um jovem promissor, um tal de Alex Ferguson. Nas Quartas-de-Final, o Red Army se impôs ao CSKA Sofia sem dificuldades (5-1 e 1-0), até chegar às Semifinais, onde se impôs ao poderoso Bayern Munique de Rummenigge e de meia seleção alemã em dois jogos emocionantes, uma prévia do que será a Copa de 1982. No primeiro jogo, nem a fanática torcida de Anfield conseguiu furar a intransponível defesa alemã, 0-0. Mas em Munique, diante de um estádio completamente lotado, o Liverpool não se intimidou e arrancou um empate injusto (merecia ter vencido), 1-1, que o colocou na final contra o Real Madrid, em Paris. Jogo duríssimo, franco, várias chances desperdiçadas dos dois lados (especialmente por Juanito), e já no final da partida surge o gol, numa escapada do lateral Kennedy pela esquerda. O Liverpool, pela terceira vez em cinco anos, é o Campeão da Europa.

Os ingleses reconhecem não saber muito do adversário, o Flamengo. A rigor, derrotar o time sul-americano apenas parece ser mera formalidade para que o Red Army finalmente ostente, de forma irrefutável, o título de melhor equipe do planeta, perspectiva que envaidece alguns jogadores. Sim, há Júnior e principalmente Zico, protagonistas da recente vitória da Seleção Brasileira em Wembley (1-0, gol do Galinho), a primeira vez que um selecionado não-europeu saiu vencedor como visitante no mitológico estádio. Mas poucos acreditam que o time brasileiro será oponente capaz de ombrear com uma equipe acostumada a vencer os melhores esquadrões da Europa. Na opinião de analistas, torcedores e mesmo dos organizadores, o Liverpool é o que a Europa tem de melhor. O time vem completo, não há desfalques relevantes. É, sim, o favorito amplo, destacado e absoluto para o encontro no Estadio Nacional de Tóquio.

E, de fato, uma previsão a maioria dos cronistas irá acertar. A decisão do Mundial Interclubes de 1981 será um chocolate, um banho de bola.



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