terça-feira, 28 de agosto de 2012

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos. O texto dessa semana atende aos pedidos dos colegas nos comentários, que me cobraram insistentemente para falar do assunto. Aí vai. Só não me venham com “pô, de novo?”. Eu avisei. Boa leitura.

CAÇANDO MITOS - PARTE 3

CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1987

O MITO
O Campeão Brasileiro de 1987 é o Sport. O Flamengo e o Internacional rasgaram o regulamento e se recusaram a disputar o cruzamento entre os finalistas do Módulo Verde e do Módulo Amarelo da competição promovida pela CBF.

OS FATOS
De todas as lorotas disseminadas pela seita antiflamenga, essa é de longe a mais chata e a que mais aporrinha os ouvidos do torcedor, uma ladainha que ninguém mais aguenta discutir, até por conta da desinformação. Nem eu mesmo estava com muito ânimo de falar disso, mas por conta de inúmeros pedidos vou tentar resumir o que aconteceu na saga do tetracampeonato brasileiro do Flamengo.

Em 07 de julho de 1987 o Presidente da CBF, Otávio Pinto Guimarães, declara que a entidade não reúne condições de organizar o Campeonato Brasileiro, já prevendo a mesma bagunça observada na competição anterior. A declaração é recebida sem muita suspresa, dada a cintilante incompetência vivida na gestão da falida Confederação.

Já em 11 de julho, os clubes de maior expressão, que já andavam mobilizados, anunciam que irão organizar seu próprio campeonato. Liderado por Márcio Braga (Flamengo), Carlos Miguel Aidar (São Paulo) e Paulo Odone (Grêmio), é criado o Clube dos 13, composto pelas doze maiores forças mais o Bahia (por causa das grandes arrecadações em seus jogos). A ideia é montar uma competição enxuta, com regulamento simples e de fácil comercialização para os patrocinadores.

Aí está a gênese da confusão. Otávio Pinto se licencia (viaja à Disney) e assume Nabi Abi Chedid, seu desafeto e com uma postura mais radical. Nabi anuncia que a CBF vai organizar o campeonato, ameaça o C13 de desfiliação e todo dia aparece com uma novidade. Campeonato com 20, 32, 48, 64 e 80 clubes. Até o simpático Botafogo de Ribeirão Preto pede uma boquinha, através de um bilhetinho do Presidente Sarney. 

A crise atinge seu ponto máximo em agosto. As partes radicalizam, a CBF define a competição com 64 equipes. O C13 também anuncia o seu torneio, a Copa União, apenas com os treze integrantes. O Flamengo, pelo campeonato da CBF, enfrentará o Botafogo na Primeira Rodada. Pela Copa União, jogará um Fla-Flu. A CBF proíbe os clubes de marcarem amistosos durante a realização de seu campeonato e vetam a participação de qualquer árbitro em jogos do C13. É o caos, a bagunça, e tudo leva a crer que haverá o irremediável impasse. Vários analistas cravam que não haverá campeonato. As Federações, apreensivas (e rachadas) começam a articular o impeachment da dupla Otávio-Nabi.

Em 03 de setembro, finalmente o acordo, costurado com Otávio Pinto, de visão mais maleável. O C13 cede e aceita montar um campeonato com mais três equipes, convidadas a seu critério. Haverá quatro módulos, e o campeão sairá do Módulo Verde, o campeonato do C13. Ao final do ano, é previsto um cruzamento com os finalistas do Módulo Amarelo (composto por equipes de porte mediano) para apontar os representantes brasileiros na Libertadores (VER IMAGEM ABAIXO, CLICAR PARA AMPLIAR). O C13 terá autonomia para organizar e vender seu campeonato, com a CBF dando apoio logístico (árbitros, delegados etc).

Pacificados (temporariamente) os ânimos, o C13 começa a formatar seu campeonato. Define grupos, fórmula de disputa, tabela. Fecha um contrato milionário com a Rede Globo e outros ambiciosos acertos com a Coca-Cola e a Varig. Antes mesmo de começar, a Copa União já está paga e dá lucro. A expectativa é grande, enfim um torneio com os melhores, e apenas os melhores times do país.

Mas a reação não tarda. Sentindo-se excluídos, prejudicados, perseguidos e discriminados, os times amarelos ameaçam uma enxurrada de ações judiciais, aliam-se a Nabi e tentam sabotar a Copa União de todas as formas. O Sport tenta anular na Justiça o contrato com a Globo. Perde. Tenta proibir as transmissões de jogos para Recife nos dias de seus jogos. Perde. O América-RJ abandona o campeonato, pois entende que, por seu porte e tradição, deveria estar no grupo de elite. Liminares e contra-liminares pipocam aqui e ali, mas enfim a Copa União parece pronta para iniciar.

Em 11 de setembro finalmente tem início a competição, com a partida Palmeiras 2-0 Cruzeiro. DURANTE a partida, a CBF (Nabi) desafia os clubes e divulga um regulamento que altera frontalmente o acordo que viabilizara a competição. Nele, é alterado o cruzamento entre os módulos, que passa a prever o campeão, ao invés do representante na Libertadores. Os clubes passam a ser obrigados a solicitar, com prévia antecedência, autorização à CBF para a transmissão dos jogos, e é proibido o televisamento para a mesma praça (cláusulas que inviabilizam o contrato com a Globo). A divulgação do regulamento APÓS o início da competição revolta os dirigentes do C13, que avisam que não irão mais participar do cruzamento nem mesmo para definir a Libertadores, além de ignorar solenemente as cláusulas do televisionamento. Há outro problema. O Regulamento anunciado pela CBF não foi validado por um Conselho Arbitral formado pelos clubes (conforme reza o CND, órgão máximo do esporte na época, em sua Resolução 16/87). É, portanto, nulo. Mais uma enxurrada de liminares e medidas cautelares vai se acumulando na Justiça.

A Copa União vai seguindo suas rodadas, sucesso estrondoso de público. O Flamengo, após arrancada sensacional e vitórias antológicas, conquista o Tetracampeonato Brasileiro, numa jornada que consagra em definitivo o craque Zico, enfim uma unanimidade nos quatro cantos do país, assombrados com sua mitológica recuperação.

Enquanto isso, o campeonato amarelo, após patinar em obscuras rodadas de futebol medíocre, muita pancadaria e cenas de pugilato, chega ao seu final, com a “emocionante” partida entre Sport e Guarani, que vai aos pênaltis. Após um bizarro empate de 11-11, os times resolvem abandonar o campo e anunciam que irão dividir o título, uma palhaçada que somente agrada ao SBT (que transmitia o circo), pois a pantomima estava atrasando o Show de Calouros.

Mesmo passíveis de punição por um ano por terem abandonado o campo (punição que o Coritiba sofreria dois anos mais tarde), os rebeldes amarelos querem que o Regulamento seja cumprido e haja o cruzamento. Só que não há Regulamento, pois a peça da CBF não foi homologada pelo Conselho Arbitral dos clubes. Por pressão do C13, o Conselho (formado pelos 32 melhores colocados do Brasileiro-86, voto qualificado, não unitário) é convocado e decide, por ampla maioria, que NÃO haverá cruzamento dos Módulos. A CBF alega que a alteração exigiria unanimidade dos votantes, ignorando que a medida somente seria cabível se o Conselho tivesse homologado PREVIAMENTE a competição, o que não ocorreu. O CND decide que o Conselho Arbitral é válido e o Campeão Brasileiro de 1987 é o Flamengo.

Aqui se encerra a questão, em seu aspecto esportivo.

Não me interessa o que pensam os magistrados de Pernambuco (para que time torcem?), é irrelevante que Sport e Guarani tenham jogado dois amistosos em 1988, carece de validade o que opinam os atuais especialistas esportivos incapazes (por desinteresse?) de escavar a história e assim contrariar suas convicções clubísticas e regionais (se o campeão tivesse sido o Inter? O barulho seria o mesmo?)

Concluindo e resumindo. O C13 não rasgou Regulamento nenhum. Em nenhum momento aceitou-se cruzamento de módulos para definir o campeão, a CBF sabia disso e anuiu. Com a bola rolando, tentou uma manobra e foi rechaçada. De fato e de direito (esportivo) o Flamengo é o ÚNICO Campeão Brasileiro de 1987.

Essa questão já estava pacificada, salvo um ou outro asterisco que algum detalhista ainda se dignava a publicar em seus periódicos. Até que uma diretoria arrivista do São Paulo resolveu ressuscitá-la para vender camisas e exercitar sua eterna veia “wannabe”. Uma parcela facciosa, regionalista e pouco afeita a pesquisas (wikipedia?) da mídia comprou a falácia e o assunto voltou a ganhar corpo.

Não sei, mas algo me diz que deveriam ter ficado quietos. O tempo dirá.

(continua)

Flamengo Net

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